Os últimos suspiros do Futebol
- Gandulas
- 24 de nov. de 2021
- 3 min de leitura

Muito antes de eu me dar por gente, o esporte me ensinou que era sobre a união, amor, respeito e irmandade. Agora, já mais velho, passo a questionar tais fatos, pois o esporte profissional, já assassinado e transformado numa experiência macabra que nem Victor Frankenstein teria a coragem de erguer, dá traços de exclusão àqueles que são os mais importantes na trajetória esportiva: os fãs, torcedores e aficionados.
Não é preciso ir longe para perceber as principais consequências dessas exclusões, estádios vazios, inúmeros torcedores que nunca tiveram proximidade com o time numa
arquibancada, seja de concreto ou cadeira de arena, ingressos a preços exorbitantes, afinal quem pode fazer o luxo de pagar 200 reais para ver um time em situação medíocre?.
O futebol, principalmente, esporte criado pelo povo, roubado pelos ricos em seu início e recuperado pelo povo, vê, mais uma vez, o futuro repetir o passado. Com salários tão altos em um país que paga tão mal, todo brasileiro ligado ao esporte gostaria de ser jogador, imagine poder ajudar sua família e ainda ter dinheiro de sobra, porém, o futebol exclui seu povo. Poucos são os times que praticam ingressos a preços populares e a mercê dos cartolas mais corruptos possíveis, menos ainda são aqueles que contestam valores praticados por entidades reguladoras do esporte. Na final da Libertadores, a competição mais passional do continente (não falo do mundo pois, os torcedores de países africanos e asiáticos se equiparam na paixão), o preço praticado afasta não só o torcedor mais pobre, mas também os de classe média, ainda mais em um país em grave crise econômica e política, com isso, só uma elite, sempre beneficiada, pode pagar os absurdos preços que beiram aos 1000 reais (apenas no ingresso). Isso tudo sem falar também da final única, uma anomalia considerando o território sul-americano, e os gastos extras acarretados por ela. A paixão, ainda assim, resiste, e as amostras dela estão presentes em movimentos, como o apoio das torcidas do Flamengo e o Palmeiras, nos chamados AeroFla e AeroPorco, respectivamente, na despedida dos clubes rumo a Montevidéu para a disputa da final da Libertadores desse ano. Nem sequer posso chamar de Glória Eterna, porque essa foi morta após o confronto cataclísmico de Boca e River na final de 2018, tomou o primeiro duro golpe com a transferência da final para Madrid, após "torcedores" do River jogarem objetos e gás de pimenta no ônibus xeneize, e teve sua morte confirmada com a criação de um crime pelo dinheiro, a final única. Entrando num paralelo com o continente europeu, a América Latina tem mais território, menos investimento, menos meios de transporte baratos, menos dinheiro e confederação responsável pelo esporte tão gananciosa quanto, além de que, as festas das torcidas são muito mais belas, vivas e pulsantes do lado de cá do Atlântico. Tudo isso acabou com uma única canetada de dirigente, uma caneta cruel, mortal, silenciosa e silenciadora de milhões, um passo a mais em direção à elitização. Agora, o esporte profissional, é uma versão morta do que um dia foi a paixão, a frase "quem ama o time é torcedor" é verdade inquestionável, pois tirando o torcedor, todos os demais venderam suas almas ao dinheiro. A realidade dói, mas precisa ser dita, o dinheiro matou minha paixão, a sua, a de milhões. O dinheiro matou a NOSSA paixão, a troco de quê? Ver uma minoria dominar e nos expulsar daquilo que erguemos juntos, com todo suor, sangue e raça disponíveis e indisponíveis. Talvez um dia, juntos de verdade, como um povo, como um mar de apaixonados pelo esporte, nós vamos recuperar nosso esporte, mas enquanto esse dia não chega, sento-me aqui, redigindo tal Conto de Fadas, na esperança de que loucos, como eu, me entendam e busquem permitir um Final Feliz para essa história. O esporte que eu aprendi a amar não morreu, ele ainda vive, em becos, quadras improvisadas, campinhos de terra espalhados mundo a fora, até existem os flutuantes, ele não vai morrer, porque enquanto ainda houver uma bola, de qualquer composição, couro, plástico, meia, o que for, e ela rolar livremente junto ao sorriso de seus praticantes, todos ainda crianças em sua essência, o Futebol ainda vive.
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